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Museus são espaços de estudo, pesquisa, educação, contemplação, lazer, diálogos e também de construção de histórias e narrativas museográficas. Ao articular memórias, essas instituições produzem discursos expográficos que articulam variadas linguagens e são apropriados pelo público de diferentes formas. A maneira mais usual da memória ser transmitida é por narrativas, que são elaboradas por meio de um processo dialético entre esquecimento e lembrança, em que o “esquecer” tem um papel fundamental ao dar destaque àquilo que é “lembrado”. As narrativas são construídas tanto de silêncios quanto de sons, como ocorre com a música, que se apresenta como uma sequência ordenada de notas sonoras e pequenas pausas silenciosas. Assim como seria inaudível uma peça musical que contivesse todas as possibilidades sonoras existentes, seria ilegível uma narrativa que contivesse todas as histórias do mundo. As narrativas, as histórias e também os discursos museológicos são construções sociais. Narrar o passado é reinventá-lo, é colocá-lo sob o filtro interpretativo de seu narrador, seja ele um livro, um jornal, uma pessoa, uma exposição, uma instituição. Como pensar então as histórias contadas pelos museus? As narrativas museográficas são produzidas a partir de escolhas, disputas de poder e silêncios. Nelas estão contidos os usos de determinados passados, materializados nos objetos de acervo e circunstanciados pelos interesses do presente e daqueles que os narram. Tal seleção produz ausências e esquecimentos; é o que chamamos de “não dito”, típico das operações que configuram as escritas de histórias. Por tempos, foi recorrente nos museus a seleção e a guarda de objetos representativos das memórias das chamadas classes dominantes, ocasionando esquecimentos e uma lacuna no acervo de peças que expressam os feitos daqueles que a escrita oficial da História e a narrativa tradicional da Museologia optaram por silenciar. Como exemplo, podemos citar a recorrente escolha em expor peças representativas da riqueza e do “bom gosto” em detrimento de objetos utilizados pelas chamadas classes populares, mesmo quando ambos estão ligados ao tema da instituição. Assim, o museu, que é um espaço de legitimação e valorização sociocultural, elenca e discrimina ao mesmo tempo, produz vozes e silêncios e define o que será colocado à vista. Entretanto, ao se abrirem para o diálogo com grupos sociais ausentes das narrativas museológicas tradicionais, as instituições começam a repensar o que foi imposto como verdade única. Com isso, preconceitos são confrontados e outras possibilidades de narrativas são levantadas. Refletir sobre as ausências, contudo, não significa adotar como prática atulhar os museus de objetos e memórias, buscando preencher todas as lacunas e representando todas as versões e grupos sociais, segundo uma vontade insaciável de guardar e lembrar que se pretende total. Tal empreitada iria torná-los tão impossíveis como uma música sem pausas e silêncios, mais próxima ao barulho do rush citadino do que a precisa regência de um maestro. Antes, faz-se necessário pensar sobre os “não ditos” nos museus, tendo em mente as inúmeras possibilidades de construção museológica que essas instituições nos oferecem. Seus silêncios podem nos ajudar a pensar sobre a pró- pria elaboração e representação do passado, bem como sobre os dispositivos de poder mobilizados na legitimação de memórias. E o grande desafio é articular os silêncios com as peças de acervos, de modo a construir ritmo e harmonia expográficos. As histórias são construídas nas relações de poder e possuem múltiplas identidades, sendo passíveis de controversas e de diferentes versões. Partindo dessa premissa, o Instituto Brasileiro de Museus convida todas as instituições museológicas a uma reflexão sobre o tema “Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus”. Quais as histórias que nossos museus estão contando? Como eles colaboram para a constru- ção ou para o questionamento das versões oficiais dos grupos dominantes? Quais outras histórias precisam ser lembradas? Como trabalhar na expografia o confronto entre lembranças e esquecimentos? Que esse pensamento crítico se desdobre em diálogos com o público e também em programações especiais durante a 15a Semana Nacional de Museus. Participem!
Texto produzido com colaboração do Museu Histórico Nacional/ Instituto Brasileiro de Museus